Primeiro

Por We can be readers - abril 16, 2020


Nesse primeiro texto, quero deixar muito clara a minha intenção com a criação desse espaço, carinhosamente intitulado We can be readers – sim, aludindo à Heroes, de David Bowie, que também foi um leitor voraz, além de ser um artista único.

O que me faz gostar de literatura acima de todas as outras coisas do mundo não é apenas a minha formação acadêmica. Provavelmente se eu tivesse cursado direito, veterinária ou engenharia seria leitora da mesma forma.

Porém, o que poderia ser diferente nesse trajeto é a forma de ler as coisas. O curso de Letras mudou a minha vida. In fact, a linguística mudou a minha vida. Analisar uma língua, o processo de produção de linguagem, estudar a ideologia implícita ou explícita na linguagem (sim, a linguagem é ideológica, tudo o que você faz na sua vida é político e ideológico, sorry about that) fez com que eu me visse muito mais crítica em relação às informações recebidas via texto escrito, via noticiário, via qualquer coisa. Essa mudança não se deu do dia para noite, foi um longo processo que ainda está em curso, como tudo no mundo. Ler um texto de ficção ou de não ficção é aceitar entrar nesse jogo maravilhoso da linguagem e esse é o convite que faço a vocês.

Esse espaço vai ser usado para falar de livros, mas de uma forma que possamos enxergar as armadilhas, as belezas, as omissões e as incertezas inerentes à linguagem. A linguagem molda o nosso real e não o contrário. Não estamos inseridos em um mundo concretamente igual para todos e aí a linguagem faz o papel de decodificação direta e perfeita, ao contrário. A linguagem é algo em relação alguma coisa, dita por um sujeito. Por isso, quando você ouvir alguém falando que está a serviço “da verdade”, desconfie. Ela não é única. Ela existe, mas possui muitas faces. Como se fosse uma pessoa – afinal, é produzida por pessoas.

Outro ponto que desejo abordar muito nessa trajetória que se inicia é a leitura de poemas. Temos poetas maravilhosos em nossa literatura, por que não lemos poesia? É difícil. Eu não entendo nada. É muita viagem, não tem sentido. Essas são as respostas mais comuns. Vamos ver que a leitura de poesia exige apenas um pouquinho de paciência e uma mudança de eixo: da horizontal de uma história linear, passaremos para a vertical de um salto no abismo. Essa vertigem é a poesia, e ela pode ser sentida por todos aqueles que se entregam a ela.

Estou pensando há dias sobre um conto que cai como uma luva para nossos tempos de pandemia e isolamento. Falar sobre isso, no entanto, requer dedicação, releitura. Prometo voltar em breve para discutir esse texto com vocês. 

Aguarde o segundo post! 

We can be readers. 

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