Melhores lidos em 2020 e mais

Por We can be readers - dezembro 18, 2020

No episódio 30 do podcast (eu não estou conseguindo gerar o link porque meu spotify é trouxa), fiz uma lista de 10 livros melhores lidos em 2020. 

Escolher os melhores do ano é sempre difícil, pois cada livro tem uma vibe diferente e proporciona um tipo diferente de viagem - cada um é ótimo à sua maneira. 

Vou largar a lista aqui bem diretona. A ordem é cronológica, eu jamais conseguiria atribuir uma nota para cada um, todos são ótimos!


MELHORES LIDOS EM 2020 

1. Torto arado - Itamar Vieira Junior

2. A tetralogia napolitana (A amiga genial, História do novo sobrenome, História de quem foge e de quem fica e História da menina perdida)  - Elena Ferrante

3. Um homem bom é difícil de encontrar e outras histórias - Flannery O'Connor;

4. O torcicologologista - Gonçalo M. Tavares

5. Uma casa de bonecas - Henrik Ibsen

6. Espelhos: uma história quase universal - Eduardo Galeano

7. Para o meu coração num dia de domingo - Wislawa Szymborska

8. A tale of two cities - Charles Dickens

9. Minha vida de rata - Joyce Carol Oates

10. Desesterro - Sheyla Smanioto 

O que esperar da finalera de leituras do ano? Bem, na data em que publico este texto, finalizei A máquina do tempo, de H.G. Wells. Por ser um clássico sci-fi eu meti o pé e fui até o fim, mas, apesar das poucas 158 páginas da minha edição pocket, foi bem arrastada essa leitura.


Um dos motivos pode ser a escolha desse Viajante do Tempo intelectualizado, europeu, branco, homem que chega no ano de 802791 e tem um discurso bem do colonizador: maravilhamento, depois perplexidade diante da curiosidade do povo que encontra (do tipo: 'ai como eles me adoram, sou mt foda mesmo!') a população delicada, doce e bela dos Elóis, até chegar a descoberta de um submundo que abriga outros tipos de humanos, os Morlocks, aparentados a vermes, que lhe causa repulsa. 

É importante frisar que, quando chega a esse super futuro à frente de seu tempo, o Viajante meio que já começa tendo um conflito bem (mais!) sério que é o sumiço da Máquina do Tempo. O Viajante divide-se entre explorar, analisar e procurar a geringonça que o levará ao seu tempo presente. 

Há umas discussões bem massa no livro, uma delas me impressionou bastante: a de que a inteligência só consegue existir num espaço onde você encontra mudanças, conflitos - adaptação.

António Damásio, um neurocientista português que mora nos EUA, fala algo do tipo, quando faz a correlação entre emoção e razão em A estranha ordem das coisas. (Vale a pena ler!)

Vou citar aqui o texto da narrativa de Wells que me deixou "impaquitadah":

Mas descuramos de uma lei da natureza, ou seja, que nossa versatilidade intelectual é uma compensação pelas mudanças inesperadas, perigos e problemas que nos afetam. Um animal em perfeita harmonia com seu ambiente se torna um mecanismo igualmente perfeito. A natureza nunca apela para a inteligência até que o hábito e os instintos tenham se tornado inúteis. A inteligência não se desenvolve onde não há mudança nem necessidade de mudanças. Somente partilham da inteligência os animais que tiveram de enfrentar uma grande variedade de necessidades e perigos (WELLS, 2017, p. 134).

O final me agradou bastante, achei que ia ter um fim meio "tá, é isso", mas ele fez algo que, para mim, foi suficientemente diferente.

Também li o hypado Marrom e amarelo, de Paulo Scott. Apesar de ser um romance bem ambientado espacialmente, situando o narrador pelas ruas de Porto Alegre e coisa e tal, não curti. Parece que estou lendo os mesmos autores de uma certa geração, de uma certa linha de escrita, de um certo vocabulário. Intercalar o tempo passado na narrativa presente já tá meio manjado, só para os jurados do Jabuti que não. É ruim? Não chega a tanto. É um livro ok.  (Eu me senti tirada pra trouxa no final da história, sabe?).

Achei que 2020 ia ser meio problemático no quesito leituras, por conta de tudo aquilo que passamos e ainda estamos passando em termos de pandemia e total irresponsabilidade do governo - zero surpresas, claro. Agarrada na releitura de O Continente (Erico Verissimo), consegui recobrar a tranquilidade da leitura e me permiti explorar livros ótimos. 


Questionei demais determinadas leituras, questionei demais a produção e realização de um podcast. 

2020 foi aquele ano que a gente parava e pensava: "tá, mas qual é o propósito de se fazer (insira aqui qualquer coisa) no meio de uma pandemia"? 

Bem, o motivo é que a vida segue em ebulição - o que não quer dizer "dane-se a pandemia", para isso já tem o governo. O propósito deve ser querer viver sempre mais, melhor e descobrir coisas diferentes.

Tem um trecho, no final da introdução de Por que ler os clássicos? (Italo Calvino) que me abriu muito os olhos para esse fator da coisa que é "usada para", "serve para" alguma coisa:

E se alguém objetar que não vale a pena tanto esforço, citarei Cioran (não um clássico, pelo menos por enquanto, mas um pensador contemporâneo que só agora começa a ser traduzido na Itália): "Enquanto era preparada a cicuta, Sócrates estava aprendendo uma ária com a flauta. 'Para que lhe servirá?', perguntaram-lhe. "Para aprender esta ária antes de morrer" (CALVINO, n/p).

Até breve! 

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