As bobagens imperdíveis contadas por Aline Valek

Por We can be readers - agosto 09, 2020

A primeira vez que ouvi falar em Aline Valek foi durante a gravação do episódio do We can be readers sobre Amanda Palmer e A arte de pedir. A minha diviníssima Lidiane Dutra falou a respeito do trabalho da Aline como escritora e criadora de conteúdo, o podcast Bobagens imperdíveis.

Ouvi o podcast e saí catando tudo o quanto foi possível sobre os escritos da Aline e encontrei vários livros: As águas vivas não sabem de si (2019). Bobagens imperdíveis para atravessar o isolamento: crônicas fantásticas (2020 - os textos não são fruto da pandemia, de coisa ruim saindo dessa situação já estamos fartos), Pequenas tiranias (2015) e o que vou comentar hoje, Bobagens imperdíveis para ler numa manhã de sábado (2019). Todos eles podem ser encontrados na Amazon, a versão kindle é bem acessível e o Bobagens imperdíveis para atravessar o isolamento pode ser acessado de graça para quem tem ou está experimentando o Kindle Unlimited. 

Devo confessar que comecei mal: não li o livro numa manhã de sábado, mas entre o domingo, a segunda e a terça de muito confinamento, paranoia e vontade de gritar. (Isso já faz um tempinho, eu refoguei e botei mais água na minha review do Goodreads). 

Os textos são muito bons. Não há truques. Há uma coisa a ser contada com muito humor (sem ser simplório), muita simplicidade (sem ser simplista) e é curioso que reflita tanto os tempos pandêmicos antes mesmo de sequer sonharmos com sua possibilidade.

O livro está dividido em 4 partes: solidão, realidade, ficção e conexão. E ainda vem com uns exercícios de escrita no final bem interessantes.

Aline centra bastante a sua reflexão na humanidade e nas diversas relações que construímos e que hoje, mais do que nunca, estamos obrigados a construir em um mundo que se tornou muito mais conectado (como se fosse possível) depois da quarentena.

O texto "Juntos", o último do livro, é particularmente tocante. Uma odisseia desde o momento em que o macaco desceu da árvore, passando por todas as mudanças boas, as atrocidades, os absurdos até chegar a um futuro que sequer vislumbramos. O ponto de vista em primeira pessoa faz com que possamos caminhar junto com esse primeiro aventureiro, esse primeiro ser corajoso a começar a sua jornada para baixo:

Desci da árvore. Foi meu primeiro grande-pequeno passo no mundo que logo passaria a chamar de "meu". Essa percepção só foi possível quando um negócio chamado consciência começou dentro da caixa craniana. Que incômoda e curiosa foi a sensação de pela primeira vez me perceber como algo à parte do mundo (VALEK, 2019, n/p). 

Ou então, no texto "A internet não me afastou das pessoas" - ótimo para refletirmos o quanto a situação sufocante da conexão de antes foi amplificada agora. Cito um trecho:

É maravilhoso poder se conectar, mas também cansa. Porque as vozes das pessoas não param um minuto (o silêncio é constrangedor), e elas estão lá o tempo inteiro, me contando coisas, me fazendo rir ou me falando das novidades, mas nem sempre estão falando comigo (VALEK, 2019, n/p). 

O compilado é de 2019, mas esse texto é de 2015. Quem aí aguenta as inúmeras reuniões, lives, webinars, cursos? É preciso estar sempre conectado a serviço, é impressionante. Eu me nego a trabalhar no fim de semana, embora hoje (domingo) tenha burlado essa regra, mas não foi uma pressão. É preciso selecionar exatamente como gastar esse tempo que parece um bloco homogêneo, mas nos exige até o sangue. 

Tem outro texto muito interessante intitulado "Uma ou duas coisinhas sobre isolamento", também escrito em 2015. O isolamento, nesse sentido, é uma falta de sincronia de vibes, por assim dizer. O trecho a seguir ilustra um pouco isso:

O isolamento não pode ser medido no espaço. Já pensou que o momento em que escrevo não é o mesmo em que você lê? Que quando curto sua foto de comida, você provavelmente já cagou tudo? Que se chegarmos no mesmo horário no lugar do encontro, não significa que estaremos juntos no tempo (VALEK, 2019, n/p)?

Umas linhas adiante:

O isolamento está na falta de sincronia, nesse desencontro temporal, em nos vermos o tempo inteiro mas nunca ficarmos juntos no mesmo momento (VALEK, 2019, n/p). 

Aqui, isolar-se é uma escolha, uma necessidade do ser humano que precisa se conectar para dentro. Ah, se soubéssemos tudo o que estava por vir!

Leiam a Aline, essa curiosidade que ela desperta na gente é encantadora. Ouçam o podcast, acompanhem o trabalho dela. 

A propósito...

Como estão as coisas aí? Os filmes, as leituras, a vontade de chutar o balde e sair correndo por aí, afinal ninguém respeita nada? 

Eu estou lendo muitas coisas, participando de projetos bacanas, clubes de leitura e me desdobrando para as videoaulas. Respirando fundo 10 vezes ao dia e prontíssima para encontrar todo mundo sem máscara e sem limite de tempo.

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Até a próxima. 




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