Consistência e constância

Por We can be readers - outubro 30, 2020

Já fazia muito tempo que eu nem chegava por aqui, até pensei que corria o risco de abandonar o barco. Mas não faria o menor sentido. O podcast segue rolando (o número de ouvintes raramente tem passado de 14), às vezes penso em desistir. Mas não faria o menor sentido. Quero continuar a gravar esse material, um dia vai ser interessante reviver tudo isso, já que minha memória não é tão boa assim quando se trata de momentos traumáticos pessoais ou históricos - imagina as duas coisas juntas. 

Comecei a ler a Poesia completa do Cacaso, totalmente desconhecido para mim. Vez por outra, já li esse nome em algum lugar, porém não tinha uma referência exata do estilo, a abordagem e tals. Estou curtindo bastante, é um tipo de poesia que me agrada, não sei explicar. Ah, sei sim. Cria imagens - coisa que mais amo e aprecio em um poema. 

A parte cinco de "Poemas brancos" é belíssima:


V

Minha morada é o silêncio.

Esta notícia que levo

já não diz que houve lutas

                      entre o bem e o mal.


Sete trombetas proclamam

a união das sementes:

Essas bodas que iniciam

os tempos da danação.

Tanto remorso me engasga.


Adeus, mundo, eu não sou daqui.

RIO, 1966 

(Cacaso, 2020, n/p). 

Essas imagens simples que vão surgindo em seus vários poemas - da noite, do mar, dos peixes - serviram de inspiração para uma coisa aqui.

Há tempos eu tive um blog no qual postava meus escritos autorais sem me preocupar muito com sua qualidade estética - talvez por não me levar tão a sério assim e me permitir experimentar diversas coisas - do cliché à tentativa de realmente causar um impacto. 

Com o tempo, e com o olhar especializado para a literatura, comecei a me policiar mais. Não me dedico o suficiente para ser escritora de ficção - romance ou poesia - mas tem dias que dá vontade.

Esse poema é de minha autoria, estou em busca de um nome para ele. Ou talvez o destino seja apenas ser assim: ausência de finalização.


É noite

A pele avisa 

O sereno se aglutina na pálpebra

da folha.

Quando cai a noite

O corpo treme

O braço amolece

A perna despenca.

Sinto que é noite

E não porque as estrelas cintilam

no céu coberto de nuvens artificiais

Mas porque o cosmos se faz dentro

A poeira se revolve, envolta em si 

Passa a carruagem do tempo, o sonho dissipa.

Sinto que amanhece,

chega o silêncio. 

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5 comentários

  1. Muito bom Suellen! Não conhecia o Cacaso, vou pesquisar , valeu ;)

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  2. Que poema lindo, Suelen. Amei a intertextualidade. E lembrei que esses tempos, vendo videos de sons estranhos captados por cameras ao redor do mundo, um deles era em um campo aberto em que começam a tocar 7 trombetas, o video foi gravado pouco antes da pandemia. 👀Curiosidades à parte, amei o poema. Deverias organizar um tempo para teu processo criativo e confiar mais em ti. Dominar e administrar as palavras tu já o faz. Só me falta as obras publicadas. Não deixa o braço amolecer antes do silêncio. Beijo!👍❤️

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    1. "Não deixa o braço amolecer antes do silêncio"... haha eu vou tentar, ok? =D

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  3. Que poema lindo, Suelen. Amei a intertextualidade. E lembrei que esses tempos, vendo videos de sons estranhos captados por cameras ao redor do mundo, um deles era em um campo aberto em que começam a tocar 7 trombetas, o video foi gravado pouco antes da pandemia. 👀Curiosidades à parte, amei o poema. Deverias organizar um tempo para teu processo criativo e confiar mais em ti. Dominar e administrar as palavras tu já o faz. Só me falta as obras publicadas. Não deixa o braço amolecer antes do silêncio. Beijo!👍❤️

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