De março a março

Por We can be readers - março 14, 2021

Dia 18 de março de 2020, início da quarentena em boa parte do Brasil. Quase 1 ano depois, estamos diante de um cenário ainda mais calamitoso, pois, há um ano, houve uma falta total de planejamento e noção para lidar com a pandemia. 

Não vou me deter muito nesse assunto, pois é repetir coisas que estamos cansados de saber: não houve a garantia de uma renda básica sustentável para a parcela da população que precisaria ficar em casa, não houve um discurso nacional alinhado com os dados científicos, não houve sensibilidade, competência. Sabemos.

Reparei que fazia quase um mês que não passava por aqui e resolvi juntar várias coisas para compartilhar com vocês. 

Em primeiro lugar, queria compartilhar o trabalho da Carolina Panta, com a La Loba Magazine - zine feminista nascida dos esforços dessa mulher que faz de tudo por ali - curadoria, edição, revisão - t u d o! Inclusive, no volume 2 tem um poema meu por lá, além de uma entrevista bacana com a Lilian Marques (escritora, poeta, cientista foda de Porto Alegre), tem texto da Aline Bei e mais uma reunião imensa de artistas mulheres - da escrita à ilustração. Vale muito a pena conferir. 

Ainda em março, teremos o lançamento da Zine Marítimas, já falei diversas vezes sobre esse projeto que estou envolvida junto com a Lidiane Dutra e a Ju Blasina. Aqui você confere um spoiler da capa do volume 1, intitulado À deriva. 



Com o início das aulas, mesmo que em um contexto mais seguro (o online), acabei não tendo tempo para realizar várias coisas desejadas. Exemplo: ler mais e postar mais resenhas por aqui. Tem sido impossível, exaustivo e já estou repensando a vida inteira. 

Estou lendo várias coisas ao mesmo tempo, muitas delas sem me fixar muito, mas continuo. 

Eis as obras:

Homens elegantes, de Samir Machado de Machado, escritor gaúcho que mistura aventuras e romance histórico nessa narrativa envolvendo jogos, livros e outros mistérios. Tem até um Bolsonaro como personagem, mas, até o momento, não me parece ser uma paródia do decrépito que se diz presidente. A narrativa é bem bacana, o que me afasta, às vezes, é justamente ter o tempo necessário para ler capítulos um pouco mais longos. Chegarei lá. 

A cidade e a cidade, de China Miéville - um sci-fi bem interessante, no qual duas cidades coexistem geograficamente e, para o bem geral das duas populações, uma deve "desver" a outra. Desver as pessoas, os lugares, as casas. É bem interessante que existe um terceiro elemento, chamado Brecha, que meio que monitora esses dois lugares, Beszel e Ul Quoma. Um assassinato ocorre em uma cidade e o corpo aparece na outra. A piração é bem legal, tenho vontade de continuar a leitura, mas acho que peguei uma tradução muito cagada, pois tem horas que a coisa fica muito literal e eu sinto que o tradutor não teve sensibilidade para manjar determinadas construções. Isso tá sendo bem broxante, vou ver se encontro a edição original (inglês). 

The sun is also a star, de Nicola Yoon - estou lendo para o projeto já comentado aqui, o @volta.literária e, só para localizar, estamos na Jamaica, mas num sentido meio vago, pois a história se passa em Nova York. É um YA, eu não sou chegada nesse tipo de livro, tem uma caralhada de clichê quando as vozes narrativas do casal Daniel e Natasha tomam conta, porém as questões de identidade, cultura, país que cortam esses discursos é muito bacana. Não sei se é o jeito mais crítico, o jeito mais ideal de apresentar as outras personagens, mas pelo menos foge um pouco de derramar única e exclusivamente o clichê. Em português o título se manteve, O sol também é uma estrela e, inclusive, virou filme. 

O processo, de Franz Kafka - um livro que já tentei terminar várias vezes e o santo nunca bateu. Porém, isso faz com o que o livro seja, de fato, incrível. Estamos sufocados com Josef K. e esse processo. Não terminar é sucumbir ao ambiente burocrático do livro. Uma coisa que remete ao livro do Miéville - e não sei se ele pode ter se inspirado, de alguma forma, no Kafka - mas em O processo os universos da vida pública e a vida jurídica, burocrática não se misturam. Alguns espaços públicos, a pensão onde mora K, por exemplo, são tomados, modificados pelo burocrático. Acabadas as necessidades jurídicas, o cenário volta a ser "normal" novamente. Estou bem focada nessa questão espacial, coisa que não havia me chamado tanto a atenção das outras vezes que tentei ler e terminar. Dessa vez, terminarei sim! 



Além disso, produzi mais episódios do We can be readers - Season 2. Lá vocês podem encontrar um comentário sucinto (#36), mas cheio de admiração sobre a obra Quarto de despejo: diário de uma favelada, da doutora honoris causa Carolina Maria de Jesus, além de um episódio (#37) sobre três livros feministas fundamentais para mim. 

Tenho ouvido podcasts muito bacanas, o já aclamado Calma, gente horrível e descobri o Litterae, por intermédio do meu amigão, Cristiano Vaniel, que também tem blog. Peço desculpas por não conseguir linkar os pods mencionados, mas meu webplayer do Spotify tá todo cagado e eu só consigo copiar os links do WCBR porque eu compartilho o link via whatsapp comigo mesmo, ou seja: BAITA MÃO. 


Se cuidem. Fiquem em casa. Mais de duas mil mortes por dia não podem ser naturalizadas! 


Até a próxima!

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