A cachorra, de Pilar Quintana

Por We can be readers - maio 29, 2021

Olá, readers!

Espero que estejam todos bem - o tanto quanto possível (isso já está implícito no meu "olá", ok?). 

Hoje vou contar um pouquinho sobre minha experiência de leitura desse livro da Pilar Quintana. Ele é tão bom que fiz o episódio 43 de We can be readers  só pra ele - o podcast estava enferrujado, tadinho. 

Fiquei sabendo desse livro através do podcast Litterae. Esse programa é mais voltado à escrita literária: como tornar seu narrador interessante, como falar do passado, como falar sobre o tempo futuro, entre outros aspectos. No episódio mais recente, Paulo Salvetti fala dessa história e como ela não apresenta um "realidade concreta", isto é, o livro não quer documentar um lugar, uma certa classe, uma certa cidade. O livro apresenta muitas camadas de sentido através dessa relação entre a dona da cachorra e o animal. Isso abre caminho para outras histórias marcantes.

Pilar Quintana é colombiana, já tem 3 romances publicados e um livro de contos, além de já ter ganhado alguns prêmios importantes. Eu não a conhecia antes dessa leitura, portanto não tenho como adicionar mais informações relevantes sobre a pessoa, mas posso dizer que como escritora, ela é ótima.

A história é muito simples: dona Elodia, proprietária de um bar no vilarejo, teve sua cadela assassinada por envenenamento. Os filhotes ficaram abandonados e ela agora é responsável pelos cuidados - dar leite usando seringas, por exemplo, por conta da partida da mãe. Damaris, nossa protagonista, certo dia passa no bar de dona Elodia e decide ficar com uma cachorrinha. É muito importante esse fato de a cachorra ser fêmea.

Damaris e seu marido, Rogelio, são caseiros na propriedade de veraneio da família Reyes. Eles moram em um casebre apertadíssimo, possuem uma relação conflituosa e não recebem salário para cuidar da casa dos Reyes em virtude de umas questões do passado. 

A cachorrinha traz muita alegria para Damaris, que fica sempre com medo que Rogelio tente alguma coisa violenta - ele não é dos mais legais com os outros cachorros deles (Mosco, Olivo e Danger). Mesmo assim, a mulher fica vigilante e faz todas as vontades da cachorra. A partir da rotina de Damaris, dos cuidados em relação à cachorra, da sua relação esquisita com Rogelio, vamos tendo acesso a outras histórias dessa personagem. Descobrimos que ela se casou aos 18 anos com Rogelio, que ela sofreu bastante pressão para ser mãe, mas é, de fato, infértil. Descobrimos o quanto isso a impacta. Não é só isso. Descobrimos como e por que a mãe de Damaris não era presente em sua vida, por que ela foi morar com os tios quando pequena, enfim, ficamos cada vez mais íntimos de suas misérias que, na verdade, é a miséria de todo um povoado. 

Porém, o mais bacana é que essas questões são colocadas de um jeito muito diferente. É um descrever a situação sem juízo de valor. O narrador não induz, ele mostra. A relação com a cachorra permeia a história inteira e, embora muito focada no aspecto psicológico de Damaris, a gente fica bem curiosa para saber qual será o desfecho.

O livro é bem mais do que isso, eu sempre digo: nada substitui a experiência de leitura. Espero ter deixado vocês com muita vontade de conhecer a Pilar Quintana e esse belo livro! 

Quando a maré estava baixa, a praia ficava imensa, um descampado de areia preta que mais parecia barro. Quando estava alta, a água a cobria por inteiro e as ondas traziam paus, ramos, sementes e folhas mortas da selva, que se misturavam com o lixo jogado pelas pessoas. Damaris estava voltando de uma visita à sua tia em outro povoado, que ficava no alto, em terra firme, passando o aeroporto militar, e era mais moderno, com hotéis e restaurantes de alvenaria. Tinha parado na casa de dona Elodia por curiosidade ao vê-la com os cachorrinhos e agora ia para casa, que ficava na ponta oposta da praia. Como não tinha onde colocar a cachorra, a pôs contra o peito. Ela cabia em suas mãos, cheirava a leite e fazia com que sentisse uma vontade enorme de abraçá-la bem apertado e chorar (QUINTANA, 2017, n/p).

Até a próxima!

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