Sula, de Toni Morrison

Por We can be readers - junho 08, 2021

Olá, readers do meu país. 

O texto de hoje é bastante sucinto, é apenas um comentário sobre esse livro interessante da Toni Morrison, Sula. Digo interessante por não saber exatamente o que sentir com ele. 

As emoções são tão... homogêneas? Planas? Monótonas (no sentindo de manterem sempre o mesmo tom)? Não sei explicar. Os acontecimentos impactantes ocorrem sob uma cortina de normalidade que quase nos impede de sentir - o horror, a surpresa, a piedade - de fato. Esse manejo da linguagem é muito coisa de Toni Morrison, visto que em O olho mais azul essa característica de mostrar coisas horrendas sem pestanejar  estava presente. 


Sula é o título do livro e também o nome de uma personagem. Para mim, a coisa é difícil, pois não vejo Sula como a peça principal dentro da narrativa. Reconheço que ela representa um determinado tipo de vida, uma negação à aceitação de tudo como algo natural - esse "tudo" sendo a opressão do povo negro. Não temos um acompanhamento da trajetória de Sula de sua infância até a vida adulta. Quer dizer, isso até existe, mas são tantos outros personagens envolvidos e detalhados que fica muito difícil definir como essa narrativa acontece e talvez seja esse o seu grande encantamento. 

O livro divide-se em duas partes e os capítulos correspondem aos anos: começa em 1919 e termina em 1965. O que liga a história, a meu ver, e que é sinalizado na própria sinopse de Sula, é a amizade dela com a também solitária, Nell Wright. Enquanto Nell vem de uma família consideravelmente estruturada para os padrões da época, Sula vive em meio ao caos: em sua casa, moram a avó Eva, a mãe Hannah, o tio Plum e outros agregados. Essa divisão entre a boa e a má garota vai perpassar toda a história. 

Quando as duas são ainda meninas, uma coisa bem terrível acontece, mas a vida segue. Isso é o que mais me chocou em Sula: coisas muito ruins são apresentadas sem alardes, sem nenhuma alteração nas batidas do coração. 

No meio dessa história que acompanha não só o desenvolvimento das duas, mas de seus familiares e também do lugar, chamado de Fundão, na localidade de Medallion, temos muitos relatos de como a comunidade negra foi e continua sendo explorada dia após dia, enquanto esperanças seguem sendo alimentadas não se sabe bem de que modo. 

Muitas coisas impactantes vão acontecer nessa história e teremos pouco tempo de nos horrorizarmos, pois as personagens possuem uma vida para seguir e não seremos nós, meros leitores, que ficaremos a chorar pelos cantos. 

O trecho escolhido para ilustrar Sula está no começo do primeiro capítulo, 1919:

Com a exceção da Segunda Guerra Mundial, nada nunca atrapalhou o Dia Nacional do Suicídio. Acontecia todo dia 3 de janeiro desde 1920, embora Shadrack, seu fundador, tivesse sido por muitos anos o único celebrante. Arruinado e permanentemente estupefato com os acontecimentos de 1917, ele voltara a Medallion bonito mas destruído, e até as pessoas mais melindrosas da cidade às vezes se pegavam sonhando como teria sido alguns anos antes, antes de partir para a guerra.

(MORRISON, 2020, p. 29)

Espero que esse humilde comentário tenha despertado o seu interesse para ler Toni Morrison e, em especial, Sula

Até!

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