Devo te mostrar o meu avesso?

Por We can be readers - julho 11, 2021

Não foram poucas as vezes que choraminguei aqui ou no podcast (que tá mais parado que pedido de impeachment na bunda do Lira) que as pessoas (e por pessoas eu quero ser bem genérica mesmo) não dão importância pro que eu faço, então foda-se mundo, não farei mais. É uma afirmação um tanto injusta, pois muita gente dá importância, dá feedback, recomenda para outros amigues e faz a coisa circular.

Talvez meu erro seja mirar em uma repercussão muito avassaladora, mas até disso eu tenho medo, pois ter que interagir demais nas redes também não é o meu foco. Enfim, não sei qual é a minha intenção quando escrevo ou gravo algo. Quer dizer, sei. É compartilhar leituras, interesses, assim como ouço e leio pessoas que apresentam um vasto mundo de coisas legais. 

Porém, o que parece ser sempre um tiro muito certo é falar de si. Eu posso utilizar o Instagram para postar várias fotos bacanas, mas uma das minhas fotos mais curtidas e comentadas é uma selfie cuja legenda é sobre não se sentir confortável dentro do que o mundo digital espera de nós. É pedir licença para se sentir um traste, é pedir licença para dizer que fora do filtro ninguém está sorrindo. 

Já faz um tempinho que tenho usado as redes de modo mais consciente. Podendo comentar, calo. Podendo curtir, vejo se não tô alimentando o algoritmo de graça. 

Para ser entendido, lido, respeitado, para ter o teu conhecimento ou arte reconhecidos é preciso mostrar o avesso? Preciso vir aqui e entregar boa parte da minha intimidade, que me custa dividir até quando muito necessário? 

É legal ler histórias e se identificar com as histórias, mas no fundo cada um sabe quando e por que as coisas doem. 

Quer saber uma coisa do meu dentro? Tô sofrendo. A gente se obrigou tanto a substituir as paisagens por conteúdos (afinal a vida andava esquisita e a morte quase ali) e acho que isso acabou cansando, não sei. Tem dias que eu queria só sentir uma conexão com a vida, com o mundo e não há. 

A ilusória contenção do que é infinito

Eu queria escrever mais, expressar uma coisa sempre insuficiente, uma coisa que morre antes de se formar uma ideia na minha cabeça.  As coisas misteriosas revolvem aqui dentro, mas eu fico querendo que exista um momento, que exista um jeito de fazer, um feitiço que vá libertar essas coisas. O que sobra é um vazio cheio de carcaças e sons, sempre tentativas, tentativas...

A escritora passa a vida inteira dando saltinhos no trampolim. Viver é só uma preparação para o pulo que não acontece.

          No meio do caminho você vai se afogar


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