Volta e meia, nas minhas andanças por aí, capto umas coisas que parecem ser fruto das melhores coincidências, já que meu celular não funciona mais em sua plenitude. Nem sempre o clique vai pegar exatamente aquilo que pretendi, pois pode ter uma travada, um delay. Tudo pode acontecer com um celular que após 3 anos já está velho e imprestável.
Porém, mesmo com tantas adversidades tecnológicas, tem dias que consigo clicar umas coisas muito pontuais, são eventos que dependem do milésimo de segundos.
Bem, tudo é poesia nessa vida, menos a nossa existência corrosiva. Eis que quando essas coincidências acontecem, acabo nomeando as imagens de Kairós. Isso porque Orides Fontela possui um poema com esse título. Ela diz assim:
Kairós
Quando pousa
o pássaro
Quando acorda
o espelho
Quando amadurece
a hora.
(Orides Fontela, Poesia completa, 2015, p.328)
Em grego, kairós significa "momento oportuno", "certo" ou "supremo" (tá lá na Wikipedia e confiei). Na mitologia, portanto, Kairós é o deus do momento oportuno. Íon de Quios consagrou um hino em sua homenagem no século IV a.C., no qual ele surge como o filho mais jovem de Zeus.
Sabemos que Chronos é outro personagem da mitologia grega também relacionado ao tempo, mas esse é ligado ao tempo cronológico, sequencial (como o nome já deixa explícito) e, portanto, medido. Kairós é tempo, mas tempo qualitativo, pois indica o momento indeterminado no tempo quando algo acontece, o tal momento oportuno.
Enfim, tudo isso para dizer que o poema da Orides é uma inspiração por si só. Quando levo esse poema para algum curso, a galera sempre leva um tempinho para assimilar o poder de três estrofes. E quando certas coisas conseguem ser congeladas em uma imagem, sempre retorno a ele. É como se pudesse seguir adicionando estrofes ao que ela já construiu.
As fotos desse post expressam esses encontros felizes entre olho e objeto, o encontro entre o olhar, o clique e o objeto.
A Orides Fontela é uma poeta muito subestimada, ou sou eu que não tenho visto ninguém falando sobre ela. Na verdade, só conheci por conta da indicação da minha ex-orientadora, e tenho lido e relido desde então.
Outro dia volto para contar um pouco mais sobre Orides e comentar outros poemas dela.
Até!
2 comentários
Não sei se gosto mais do texto ou das tags. "Explicações que ninguém pediu" é o auge da blogueiragem raiz, a blogueiragem do deboche que não cabe em 15s de vídeo do tico teco.
ResponderExcluirAqui só servimos deboche! hahaha Cringe total. Apegada em blog, café e rock.
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