Não ficou nenhuma foto que prestasse, nada, nada, ouço a mulher atrás de mim falar para outra pessoa (por mensagem ou vídeo), não sei. Pode não ter sido exatamente essa mulher, pode ter sido outra que passou. Só sei que uma mulher disse aquela frase e pensei na mesma hora "se o momento foi ao menos vivido, não dá pra dizer que não ficou nada". Entendo que a nossa dinâmica mudou. A existência é afirmada pelo digital. Quase não nos damos conta dessa existência crucial, que leva outras pessoas caminhantes à margem. Não só pessoas que não têm o que postar no instagram, mas pessoas alheias a serviços de saúde, educação e emprego, para dar alguns exemplos, que ficam excluídas dessa exclusividade do ser alguém apenas online.
Amamos o online porque é mais rápido e prático e quase nunca pensamos a internet como um luxo. 2020 escancarou várias relações que exploram seres humanos até o miolo profundo de suas almas. Foi em um episódio do podcast Vox Quick Hits que ouvi sobre o tema da internet como um bem excludente e inacessível para muitos e, depois que você começa a pensar sobre isso, é impossível não passar a enxergar toda a existência a partir de mais uma régua desigual e destrutiva.
2 comentários
Ah, as pequenas epifanias dos fragmentos de conversa alheia. Belo texto, Sue. Obrigado por isso.
ResponderExcluirPrincipalmente se são coisas compreensíveis e não advogadas muito doidas hahaha :D obrigada pela leitura!
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